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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

11.05.14

Teoria de jogos, manipulação de massas e o poder


Sérvio Pontes Ribeiro

" Deus fez a todos nós diferentes, o fuzil nos deu a igualdade de condições", frase de uma liderança ultranacionalista ucraniana enquanto ameaça parlamentares. Eu acredito que ninguém assistindo a Globo ou outros veículos de imprensa comprometidos com o poder dos mais fortes, consiga entender que quem tomou a Ucrânia foi um grupo ultraconservador e nacionalista, tecnicamente, fascistas. Quem os denuncia diariamente? Putin, e a Rússia. Afinal então, não está ele certo que esta gente que agora manda, desmanda, demite prefeitos e desce a porrada, pode se tornar um grupo de violência étnica? Claro que podem, e claro que a Europa está preocupada com outro genocídio na região. Não ao acaso, a TV5 apresenta um documentário sobre a Ucrânia de manhã e outro sobre as famílias bósnias mulçumanas, massacradas pelos sérvio, anos atrás. Entretanto, uma limpeza étnica de bósnios pelos sérvios foi um horror inaceitável para a Europa, mas o mesmo contra russos, será uma guerra de grande escala, pois haverá resposta.

 

               Pensam então os leitores... e daí? E daí para nós, e por quê diabos estou lendo isto em uma página de sociobiologia aplicada ao dia a dia? As manifestações e confrontos com o poder corrupto da Ucrânia foi o exemplo mais emblemático e bem sucedido de remoção de Poder pelo "povo", depois da Primavera árabe. Em função exatamente do que representaram, e do crescente desejo de manifestantes brasileiros ganharem algo pelas ruas, e lembrando do vazio manipulado de todas as manifestações que historicamente aconteceram no Brasil (desde a época da criação da República), eu quis sim explorar o aspecto biológico da luta humana contemporânea por controle do poder por linhagens.

 

               Ambos os casos acima citados, mostram claramente o componente sociobiológico da força: manifestações podem surgir pacificamente e legitimamente representarem a revolta coletiva, mas a tendência é que elas criem condições, ou estratégias de jogos, que favoreceriam grupos não legítimos. O poder coletivo é atualmente controlado pelo sistema de políticos e leis instalados, um sistema que simplesmente deteriora quando os políticos eleitos manipulam ou burlam as leis para se manter no poder e tomar decisões que os favorecem individualmente. Este fato político - a corrupção - também é uma estratégia de jogo baseadas em trapaça coletiva. Parece muito claro que a capacidade comportamental de manipular o poder delegado ao seu favor seja uma estratégia geneticamente fixada na nossa espécie. Ou seja, não qualquer um, mas TODOS que alcancem o poder vão se corromper se não fiscalizados. Esta hipótese biológico-evolutiva, facilmente explicada pela teoria dos jogos, deveria ser explorada com profundidade pela sociologia. Também é verdade que o pouco diálogo das humanidades com a biologia evolutiva (herança maldita do darwinismo social promovido pelos nazistas) atrasa o entendimento e a necessidade de controlarmos nossos impulsos inevitáveis.

 

               Assim, a real democracia traz a virtude de matar o biológico em nós. Porém esta virtude é parcial, e a civilidade, fruto que emerge das qualidades individuais em práticas coletivas, nos domestica por completo, o que é bom e, do ponto de vista político e de representatividade, fundamental! Para perguntar o quão civilizados já somos, voltemos só um pouquinho no tempo. Talvez os leitores mais jovens não tenham a consciência disto, mas enquanto a minha juventude pintava a cara e ia para as ruas pedir que o Collor desse o fora, nossos pais em casa, sem rede social nem nada, falavam claramente do que de fato se passava: os velhos ladrões e usurpadores do povo não estava felizes com as ações do Collor e quiseram tirá-lo. Como ele, Collor, também estava usurpando e roubando, foi fácil mobilizar a Rede Globo e outros instrumentos da manipulação conservadora para provocar esta queda. Estas mesmas forças conservadoras tentem difamar a Dilma hoje e, como ontem, como ela está fazendo coisas por demais erradas, vai ficando fácil se impor de novo pelo controle da mídia.

 

               As manifestações de hoje? Nada de novo, só temos a maior clareza de não atacar a alguém em especial e, em um primeiro momento, impedir heroicamente a manipulação partidária. Entretanto, sem ilusões, infelizmente. Não temos um coletivo civilizatório que nos blinde para sempre desta manipulação. Nestes momentos, se a manipulação intelectual e de imprensa não funciona, heróis violentos podem sim surgir na nossa aparente defesa. Sem ilusão de novo, poder tomado a força só será restituído ao povo à força, ou após anos de ditadura. Esta é a alma biológica do controle de linhagens sobre a maioria. A imposição pela força é lugar comum dentro da nossa sociedade, e nunca vai deixar de ser um risco, exatamente porque é um impulso biológico.

 

               Um fato velho conhecido da Academia é ver docentes e pesquisadores medíocres tentarem manter um controle político do grupo por imposição das regras aos gritos, com forte tom moralista e legalista em tudo que falam. Os que de fato trabalham em ciência e educação sabem que as regras tem que se acomodar ao momento atual, sempre mutante, mas por isto mesmo, manipular e controlar quem está se dedicando de fato à ciência e ao ensino fica fácil. Agora imagina, se no berço do saber ocidental acontece esta lutinha boçal de poder, sem outro fundamento senão a intriga e manipulação, como não será em qualquer outra instância social? Não tolerar o intolerante, já é um bom começo para defesa de uma estratégia de jogo coletiva que não resulte em submissão. Então, temos que ser inteligentemente biológicos?

 

               A disputa e controle das ruas sempre será feito pelo desejo do povo, mas só vencerá com a devida apropriação dos poderosos. A conquista pela civilidade tem várias facetas: inteligência, arte, debate, educação, esclarecimento, expressão coletiva pacífica dos desejos sociais, respeito às leis; já a conquista pela força, biológica, tem uma só: a violência. A vigília é o único antídoto, e em todas as instâncias.

 

               O fato é que estes países que derrubaram ditaduras e corruptos pela força hoje não são exemplo de progresso, mas de caos. A história não civilizatória da civilização sugere: os instintos são sempre mais fortes, e quando coletivamente empoderarmos demais a um grupo ou deixarmos um grupo se empoderar pela força, vamos simplesmente trocar seis por meia dúzia.

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