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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

13.12.15

A CIDADE CELEBRA CICLOS QUANDO A ARTE CELEBRA A MORTE


Sérvio Pontes Ribeiro

Sérvio Pontes Ribeiro

Há quem se negue a ver os mais graves impactos ecossistêmicos que a remoção sem proporções das árvores do ambiente tem causado. Mesmo dentro das cidades, é preciso que se tenha as árvores não como elementos decorativos, mas como formadores de florestas urbanas. Como tais, estas florestas são como quaisquer outras, e são pautadas pela dinâmica de nascimento, crescimento, ocupação delongada do espaço pelas copas, redução e, finalmente, morte das árvores. Sem qualquer uma destas etapas, aleijamos este ecossistema.

 

Se negando a abraçar a proposta do movimento Fica Ficus de incorporar as árvores tombadas como parte da paisagem de Belo Horizonte, a Prefeitura realizou nosso sonho ao só largá-las por lá. Uma onda de mortalidade abriu um buraco no dossel da floresta linear da Av. Bernardo Monteiro, como de fato acontecesse nas florestas. Porém, como se tivesse lido nossos prognósticos, a onda parou.

 

 

 Uma clareira não nega uma floresta,

é parte dinâmica dela.

 

As árvores sobreviventes revigoraram-se, mesmo quando reduzidas. Largam aos céus seus poucos mas gigantescos galhos. Trazem ao urbano o assimétrico, complexo, grandioso e dinâmico SER de uma floresta.

 

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Galhos restantes de um Ficus, retorcidos pela busca da luz em meio aos

demais galhos que se foram, desenham a memória da copa que se foi,

deixando a marca de sua antiga grandeza, a velha senhora.

 

A floresta está viva mas o cidadão não vê. Uma velha e simples técnica de desfazer dos espaços públicos. Se não é o que o Poder quer, se é algo que surge da vida, das pessoas, não dá dinheiro aos amigos, abandona-se. Que o capim cresça, o cocô se acumule, as caixas e sacos escalem as árvores como cipós.

 

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O abandono não desfaz da floresta,

nem do renascer constante.

 

 

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Ainda são canteiros, mas o cidadão não

pode mais reconhecer.

 

 

Agrega-se o senso de lixo e feio ao que é um ciclo que garante que a cidade viva, respire, nasça, cresça, morra, mas siga em outra rodada da Fortuna. Para este descaso, há um antídoto: a Arte. O crescimento e a expansão dos troncos de um Ficus e suas raízes aéreas, são a arte da luz, da água e dos espaços. Morta a árvore, fica a Arte que moldou sua vida.

 

 

 

O desenhar do ar nos troncos que

deixam a senda de sua vida, e um

tronco-arte, reto, que traz risco

zero de queda.

 

 

 

 O desenhar da água, que faz

escorrer as raízes em busca do

solo que lhes firme e eternize.

 

Mais que arte, o tronco é o registro biográfico de uma existência centenária. Cuidada, estas formas desenhadas pelos anos serão a moldura de uma galeria ao céu aberto. Esta galeria terá que ser aberta em meio a capim, mato e restos, mas é onde o mundo mais precisa de mudança que o belo precisa invadir. Atrás do belo que se instale, que venha a cidade, os jardins o bem estar e o querer ficar.

 

  

 

Fiquem, Ficus, mortos e vivos.

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