16.04.11
A Sociobiologia do mal II: o bem biológico, o mal biológico, os hippies, o capitalismo.
Sérvio Pontes Ribeiro
Queridos alunos,
Seguem algumas referências a pensadores que contrastaram em sua forma de ver o homem e sua natureza interna. Eu diria que pequenos Rousseaus e Hobbes me manifestam em sala quando o assunto surge. Importante perceber, neste embate mais interno do que científico, algumas curiosidades interessantes.
Primeiro, de qualquer lado que estivessem, estes pensadores eram preocupados com o bem comum. Hobbes, que aclamava pelo controle do mal do homem (guerra de todos contra todos - Bellum omnia omnes, porém, era anti-naturalista e pregava a sociedade como forma de combater a nossa biologia cruel. Já Rousseau, ou mais contemporaneamente, Thoreau (um dos grandes mitos de base do movimento hippie), criam suas obras baseados em uma biologia amena (o bom selvagem), e no altruísmo na base de nossos instintos. Contrários portanto à sociedade, pregavam a re-integração do homem com a natureza.
O que claramente é um paradoxo é que o temor a uma biologia cruel fundamentou pensadores que dão sustentação aos modelos capitalistas mais cruéis, antropofágicos e degradantes de nossos recursos naturais!
Ao contrário, os pensadores que se apoiavam em um bem natural ligado à própria biologia do homem, e desapaixonados pelos aspectos cruéis da sobrevivência das espécies, fundamentaram todos os movimentos sociais contemporâneos que, de certa forma, nos deram alguma chance de sobrevivência na terra.
Sem a visão destes homens, o “ecologismo” não teria tido o alcance que teve, pautado somente na ciência. De fato, a pesquisa científica em prol do Meio Ambiente é hoje uma poderosa arma para a proteção de nossos recursos, sua sustentabilidade, e de um conceito de qualidade de vida que transcende o conforto tecnológico e se assenta na preservação da vida na Terra. Porém, a força política que leva os recursos financeiros para esta área do conhecimento surgiu da contra cultura. Foi neste caminho que cientistas alternativos fizeram as denúncias mais sérias sobre a degradação ambiental nos Estados Unidos (Silent Spring, Rachel Carson, 1962 e The Pesticide Conspiracy, Roberth van den Bosch 1980), em livros, pois as revistas científicas não queriam divulgar dados contra a revolução verde!
Afinal, se creres na essência do bem, o bem fará pautado na biologia! Se na essência o mal, vai temer e distanciar de si mesmo. Será que este impasse inesperado já aponta para o bom instinto? Será que salvaríamos afinal aquela velhinha enrascada se isto nos pusesse em risco nós mesmos, devido à genética do bem? Ou, egoisticamente, nosso cérebro criou esta percepção de um bem, que claramente tem consequências abrangentes na nossa sobrevivência?
Somos a nossa própria “Matrix”, imaginando o bem e escondendo os genes que nos comandam? Seria a surpresa de ver alguém i – ou amoral, cometendo crimes terríveis ou violências de guerra, tão paralisantes à imprensa, por nos depararmos com alguém livre da máscara da co-existência pacífica? O mal é tão explicável por diferentes hipóteses, de fato.
Porém, o que explicaria o fascínio, a emoção e o conforto de presenciar ou experimentar a bondade alheia? Improvável de ser só imaginação, ou resquício do afeto lactante materno... há de haver mais!
Agora, que haja o tão perceptível BEM, será então ele biológico?
Nota do autor – este texto foi escrito meses antes do massacre de Realengo, o qual, ao menos a mim, causa a certeza de que tanta maldade é repugnante demais para ter origens biológicas, restando a CULPA por tais existências ao acumular das pressões artificiais e cruéis que as sociedades modernas causam em gente já doente. Caso queira saber o que eu realmente penso, não evoluímos para lidar com tais indescritíveis atrocidades.