27.10.10
SociobioloDIA made in China/parte 1
Sérvio Pontes Ribeiro
Olá pessoal,
Obrigado pela recepção aqui no blog professor, vai ser ótimo poder discutir minhas impressões sobre o oriente com vocês. Tive alguns problemas com a censura da internet chinesa mas agora já estou no Japão para a COP 10, aí vai o primeiro ensaio sobre a China e na sequência postarei mais um sobre a World EXPO, mais a frente trarei noticias recem saídas do forno da ONU aqui na COP10.
Abraços,
Alexandre
O monstro responsável
Apesar de sempre ter buscado informações através de diferentes fontes como internet, documentários e livros, os clichês apresentados pelos meios de comunicação de massa ainda faziam parte das minhas expectativas. Achei que iria encontrar um país autoritário, com uma população retraída e submetida ao comando de um governo invisível tendendo ao estilo dos contos do velho Orwell, onde o trabalho e a obediência seriam questões inexoráveis.
Parte disso é verdade, a cerca de 30 anos atrás a China se encontrava num processo extremamente complicado de transição e o autoritarismo era de fato o prato do dia. De certa forma ainda existe um ranço desse tipo de controle (que foi um dos motivos do atraso do meu diário de viajem). Sites como YouTube e alguns provedores internacionais de blogs não são acessíveis pela web chinesa, e mesmo o Google passa por uma censura ao disponibilizar as respostas de procura. Além disso, os processos de imigração do campo para as cidades colocam milhares de pessoas em condições de trabalho realmente desumanas e as questões de direitos trabalhistas daqui ainda são equivalentes as da revolução industrial.
No entanto, assim como nos grandes formigueiros, as decisões governamentais parecem buscar o bem comum do sistema. Políticas de manutenção e criação de empregos são aplicadas em todas as partes, mesmo com a enorme automatização dos serviços e informatização existem muitos cargos de trabalho voltados para o cidadão comum, em cada maquina de tickets de metrô ou em cada caixa automático existe um jovem uniformizado e com conhecimento razoável de inglês disponibilizando informações sobre como utilizar a maquina ou sobre localizações e direções das coisas, o que ajuda muito os estrangeiros a se acharem no formigueiro.
Aparentemente as pessoas parecem bem, o crescimento vertiginoso do país arremessou uma enorme quantidade de pessoas das classes mais baixas para uma classe média alta com pretensões de consumo alinhadas aos ideais ocidentais. Lojas de grifes famosas estão em todas as esquinas e edifícios de mais de 100 andares são comuns no centro da cidade. As zonas mais carentes não parecem nem de longe com as nossas favelas, aqui são grandes edifícios construídos pelo governo com pequenos apartamentos, nada muito luxuoso, mas, sobretudo, digno.
Não vi nenhum morador de rua em nenhuma parte da cidade e os pedintes são raros, e mesmo estes vestem roupas novas e confortáveis. Em contrapartida a quantidade de prostitutas nas ruas é enorme, a cada 30 metros da Nanjim Road (paraíso do consumo) sou abordado por uma garota chinesa com frases como, “how ale you?” “whele ale you flom?”, e coisas do tipo. Mas estas são as mais bem vestidas, sempre de Gulcci e com cheiro de Chanel numero 5, nada comparado à pedofilia do norte e nordeste do Brasil.
De um modo geral a cidade funciona perfeitamente bem, o transito é intenso e barulhento (os caras buzinam por esporte por aqui), mas muito fluido, o sistema de transporte público é muito eficiente e a maioria dos ônibus são elétricos. Em resumo, tudo parece estar voltado para o bem comum do povo (o que me levou a repensar os conceitos que eu tinha sobre as aplicações do comunismo). De certa forma, apesar de ainda haver desigualdades evidentes, as coisas vão bem para a população em geral (pelo menos é o que se pode ver em Shanghai). Mas vale ressaltar que esta é a visão sobre uma das cidades mais ricas da China, o equivalente a nossa São Paulo (apesar da minha impressão sobre Shanghai ter superado em muito a minha sobre a capital paulista), ou seja, ainda não faço idéia de como é a vida nos campos ou nas outras cidades.
No entanto, essa enorme quantidade de pessoas recém chegadas ao mundo insano do consumo ocidental desencadeia enormes demandas de produção e tem como conseqüência a elevação das pressões sobre os recursos naturais a níveis jamais vistos na história da humanidade. Uma única usina de produção de aço aqui em Shanghai, a Baoshan, produz cerca de 36,5 milhões de toneladas de aço por ano, 1,6 milhão a mais do que toda a produção do Brasil. Os números são astronômicos e os impactos seguem no mesmo sentido.
Sendo assim não era de se estranhar que o tema central do WORLD EXPO 2010 tratasse da organização e busca de propostas sustentáveis para as grandes cidades. A adoção de Shanghai como sede do evento pelo governo chinês se deu como parte de um programa de investimentos em tecnologias e propostas para a mitigação dos impactos da superprodução chinesa. Há alguns anos a comunidade científica chinesa vem estudando e modelando os possíveis impactos do crescimento e recentemente chegaram à conclusão de que um colapso próximo será inevitável se nada for feito. Sendo assim, o país mais rico do mundo, (a china hoje tem 2,65 trilhões de dólares em reservas) não hesitou em dar início ao maior programa de desenvolvimento tecnológico em sustentabilidade do mundo.
A primeira WORLD EXPO foi realizada em Londres no ano de 1851 como uma continuidade da tradição européia, originada na França, de exposições industriais, onde eram exibidas as tecnologias mais recentes em termos de processos industriais de produção e aplicações dos avanços científicos da época.
De lá para cá a feira a feira vem sendo organizada mais ou menos a cada 10 anos e já foi sediada por diversos países ao longo do globo. Atualmente seu principal objetivo é promover o intercambio tecnológico e cultural entre as nações, onde cada país que se propõe a participar leva suas principais propostas sobre o tema a ser tratado em cada EXPO. Foi nessas exposições que coisas como a torre Einffel e o telefone foram inauguradas.
A versão de 2010 é de longe a maior feira já feita na história. Com mais de 70 milhões de visitantes ao longo dos 184 dias de exibições o complexo ocupou nada menos que 5.280 metros quadrados e contou com a participação de mais de 200 nações, cada uma com seu espaço próprio de exibição, sendo alguns desses enormes pavilhões com vários andares.
Além dos pavilhões de cada país, a Expo também contou com pavilhões temáticos onde os assuntos referentes ao tema central puderam ser explorados com mais detalhes. Este ano a frase central foi “better city, better life”, cidades melhores, vida melhor. Neste sentido, assuntos como sustentabilidade, práticas ecologicamente corretas e harmonia urbana tiveram o maior destaque.
No próximo capítulo entrarei em mais detalhes sobre a Expo e darei inicio as noticias sobre a COP10, o bicho ta pegando, ou melhor, tão pegando o bicho aqui.
Abraços.
Alexandre