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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

19.10.10

Os exames de DNA e a androginismo masculino


Sérvio Pontes Ribeiro

 

Isto é uma provocação de sala de aula, mas precisamos delas:

 

É um fato estatístico que por trás das escolhas de casamento, nem sempre está a escolha dos genes dos filhos. Para algumas espécies de aves estudadas, estimou-se até 40% de filhos bastardos nos ninhos! Logo as aves, um grupo que era conhecido como o panteão da monogamia. O fato é que há machos excelentes, bons e os “melhores que nenhum”, e a necessidade absoluta de cuidar da prole e do choco a dois. Há um risco, sempre, ao tentar induzir o macho bom-de-cuidado-parental a cuidar da prole alheia (se ele descobre...), mas acontece e muito!

 

Claramente, aspectos morais e a transcendência ao biológico restringem estas práticas nas populações humanas, mas não tanto. O dado que eu conheço é da Inglaterra, onde é estimado que 15% das pessoas no fundo acham que seu pai é o marido da mãe, e não é! Encarada a realidade, este pode ser mesmo um fato sociobiológico importante. Tal processo pode balancear genes masculinos ricos em testosterona – os machos agressivos, que darão filhos fortes e protetores -  e os menos ricos em testosterona – que vêm dos pais atenciosos e não violentos. O mecanismo de balanço provavelmente acontece devido à eventual chance de alguns dos filhos “do marido” serem legítimos, o que é razoável de considerar, já que assim a fêmea múltipla a expressão gênica da sua prole. Este fenômeno poderia também explicar porque a relação de homens que assumem mulheres divorciadas com filhos é mais tranquila do que o inverso. Afinal, o segundo marido é fruto de uma escolha menos impulsiva, e é a escolha para o resto da vida (que sobrou, claro). Se ele assume filhos prévios, ele pode aumentar a certeza do próximo ser dele. Por outro lado, a mulher que assume os filhos do homem com outra, já entra em disputa de recursos para seu próprio filho, podendo gerar a famosa “madrasta de conto de fada”.

 

Há três gerações ao menos esta relação de importância da testosterona mudou na espécie humana.  Nossos avós matariam qualquer um que se interessasse pela sua mulher, e se não matassem, eram dados como frouxos, e não arrumavam outra. Hoje em dia, ainda mais com as mulheres livres da condenação social devido à gravidez pré-nupcial, a coisa é diferente. Se um homem flagra uma traição, qualquer gesto de violência simplesmente piora o caso dele. Claro, estamos falando de uma classe média educada, onde o acesso a empregos que demandam co-existência pacífica, diplomacia e conexões interpessoais será a fonte de “fitness”. Neste cenário civilizado, o melhor gene também deve ser o menos agressivo, menos “testosterônico”.  Já há quem sugira que este é um cenário que estaria selecionando um perfil de machos humanos andróginos, afeminados e menos agressivos.

 

Entretanto, resta sempre uma dúvida. Afinal, muitos homens másculos, de rosto retangular e viris são também gentis e razoáveis no lido com a comunidade e seus colegas (e muitos franzinos, assimétricos e pouco atraentes fisicamente, são absolutamente irascíveis). Assim, não seria artificial a relação entre masculinidade e estabilidade emocional? Não seria uma falácia “woodalleana” para fazer os franzinos se sentirem mais sexy por serem só inteligentes? O fato é que é sugestivo, e estatístico, a minimização do apelo “macho” nas gerações mais novas. Agora, se isto é pela manipulação do fenótipo (depilação, maquiagem, menos musculação etc), ou pela seleção natural, não creio que alguém tenha medido.

 

Existe, porém, uma outra possibilidade, um trote biotecnológico no poder recém adquirido das mulheres independentes. As mulheres modernas emancipadas tinham adquirido um enorme poder de selecionar os pais de seus filhos e o marido ao mesmo tempo, e independentemente. O fato de não ser mais condenável o casamento pós-fecundação, gera a possibilidade de, alheia ao risco da traição à relação estável, a mulher engravidar de um e convencer o “correto” de casar com ela. Claro, tudo isto antes do teste de DNA. Testes de paternidade, anuncia a ordem vigente, protege a mulher do homem que não quer assumir o filho legítimo, mas a impede também de gerar um filho ilegítimo.

 

A consequência inevitável disto poderia ser o aceitar da paternidade do marido, diminuindo a frequência de genótipos machões-ricardões na população? Cornos mansos, torçam!