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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

28.09.10

Debate inaugural – Parentoni Martins & Zanette: Prólogo


Sérvio Pontes Ribeiro

 

Sérvio P. Ribeiro

Apresento um grande e belo presente que recebi, em resposta à criação do SociobioloDia: um debate acadêmico sobre a importância da seleção de Parentesco de William D. Hamilton. Meu amigo e velho tutor, Rogério Parentoni Martins, Fellow of the Royal Society”” e hoje Prof. Visitante na UFCE, e nosso velho aluno de mestrado, Lorenzo Zanette, hoje  na University College London, “desenharam” este elegante embate de idéias, mais do que emblemático para este blog.

Explicando aos leitores leigos, a Sociobiologia surge como um elemento teórico chave do dito UltraDarwinismo, devido à sua poderosa estruturação de idéias sobre aspectos que eram ditos paradoxais na Teoria de Darwin. Nominalmente, o problema do altruísmo na natureza, já que o sacrifício do indivíduo era um contracenso adaptativo. Os detalhes, o debate diz por si mesmo. Um dos grandes expoentes deste pensamento evolutivo, William D. Hamilton, resolveu boa parte destes dilemas. Hoje a pequena, mas impactante obra da vida de Hamilton está compilada em dois volumes do livro intitulado “Narrow roads of gene land”. Este livro foi sua obra final, sendo a compilação comentada por ele de cada um de seus trabalhos científicos. Na contramão da mentalidade atual produtivista, Bill publicou pouco, mas cada artigo era uma bomba na lógica atuante na Biologia. Esta genialidade lhe conferiu o título de Biólogo do Século após sua morte em 2000, por complicações de uma Malária, contraída em África, onde havia ido estudar a passagem da AIDS de primatas para os humanos.

Bill falava português e viveu por um curto período em São Paulo. Durante meu mestrado na UFMG, em 1990, um de seus ex-alunos e ali professor, Antony Rylands, me convidou para acompanhá-lo em uma saída de campo em Minas Gerais. Desta, fui convidado por ele para uma expedição na Amazônia, em Mamirauá, no ano seguinte. Desta expedição, surgiu a chance de fazer o doutorado na Inglaterra, onde ele me co-orientou, na mesma época que co-orientava o Carlos Fonseca (UFRN). No meu doutorado trabalhei o que foi seu objeto de investigação final: a influência das doenças na evolução do sexo. O sexo é outro paradoxo darwiniano, já que faz menos sentido, na escala do gene, passar somente metade do que temos de herança ao custo elevado de compartilhar a outra metade com um estranho.

À luz desta discussão e da minha vivência com Bill, lanço o debate de Parentoni e Zanette. Cada lance do debate será publicado em um post separado, em ordem descendente (todos posts publicados ao mesmo tempo, do primeiro ao último). Finalmente, publico ao fundo meu comentário sobre esta discussão, e sobre o que seria para Hamilton a “nova fronteira hamiltoniana”, em provocação a um dos comentários de Zanette. De cara já parabenizo os colegas por esta oportunidade de mostrar aos estudantes o que é um embate de idéias, respeitoso e produtivo, aberto e vívido, descompromissado com os índices da CAPES/Lattes e outros escravocratas do pensamento e do prazer do pensamento científico.