28.09.10
Debate inaugural – Parentoni Martins & Zanette: Texto 5
Sérvio Pontes Ribeiro
À procura de avanços
Lorenzo Zanette, PHd/ Universtity College London
É muito interessante a argumentação inicial de Parentoni. Não conheço profundamente a literatura sobre angiospermas para poder opinar sobre o uso da seleção de parentesco neste grupo de plantas. No entanto, tenho dúvidas quanto a validade do argumento. Seleção de parentesco não se aplica às angiospermas ou não foi adequadamente testada neste grupo? A seleção de parentesco não era mencionada por microbiologistas até o final dos anos 90. Quando ela foi testada em bactérias e leveduras descobriu-se um mundo novo de conflitos, cooperações e altruísmo (Wild et al.2009). As angiospermas, quem sabe, sejam o nova fronteira hamiltoniana.
Concordo com Parentoni quanto a necessidade de definições precisas. Felizmente, já temos uma definição precisa de DNA e de que este contém informações. O fato de a seleção de parentesco e o conceito de aptidão darwiniana serem independentes dos limites que se definem para a informação genética, i.e. um gene ou vários genes, um alelo ou vários, me parece um ponto forte da seleção de parentesco, não uma fraqueza. Sua lógica não depende de um peculiaridade do sistema de herdabilidade. Atributos são selecionados, como enfatizou Parentoni, mas atributos somente podem passar para as próximas gerações através da informação contida no DNA. A grande revelação da seleção de parentesco foi mostrar que o DNA podia no próprio individuo que apresenta tais atributos ou em outros indivíduos que compartilham por descendência material genético com aquele indivíduo. Não caberia aqui uma longa discussão sobre os níveis em que seleção atua, há literatura farta sobre o tema (e.g. Okasha 2006). Mas, apenas como exercício é valido pensar em como evoluiu a vida neste planeta, antes do primeiro individuo, certamente moléculas de DNA/RNA foram selecionadas, ou não?
Infelizmente, Parentoni se equivoca ao afirmar que a hipótese da haplodiploidia faz parte da teoria de seleção de parentesco. Como o próprio Hamilton esclareceu (Hamilton 1996), e outros depois dele reforçaram, a hipótese da haplidipoidia é apenas isso, uma hipótese derivada da seleção de parentesco (Bourke e Franks 1995). Uma hipótese específica para os himenópteros e seu peculiar sistema de ploidia.
Parentoni corretamente argumenta que indivíduos são complexos formados for um enorme número de subunidades. No entanto, ao usar esta mesma definição para uma colônia de insetos, Parentoni parece defender a idéia de que um grupo de indivíduos geneticamente distintos possa ser considerado um indivíduo complexo, ou seja um superorganismo. Como argumentei anteriormente, não há sustentação teórica para a evolução de tais indivíduos formados por grupos de indivíduos.
A produção de machos por parte de operárias, realmente não ocorre em algumas espécies de himenópteros eusociais avançadas, onde as operárias são obrigatoriamente estéreis. No entanto, nos demais grupos de himenópteros sociais (avançados ou não) é um fenômeno bastante comum e bem documentado (revisão em Ratnieks et al.2006). Os conflitos intra-coloniais decorrentes do potencial reprodutivo das operárias tem recentemente recebido bastante interesse teórico. Entender o balanço entre as forças seletivas favorecendo a reprodução das operárias e as forças seletivas favorecendo a coesão das colônias tem se mostrado uma tarefa não trivial, mesmo dentro de uma perspectiva de seleção de parentesco.
Finalmente, espero que esta breve e prazerosa discussão, apesar do aparente impasse, possa ter despertado o interesse na discussão sobre todas as formas de seleção teórica e empiricamente possíveis.