07.12.18
FLORESTAS URBANAS E COEXISTÊNCIA HOMEM-ÁRVORES (EM TEMPOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS)
Sérvio Pontes Ribeiro
Começo esse texto vendo as imagens da tempestade de ontem, dia 06 de dezembro, onde centenas de árvores caíram em Belo Horizonte, inclusive causando uma morte. Talvez não haja momento mais difícil, mas também oportuno para este texto. Porém, alerto que sua leitura em momento tão emocional, que dificulta a percepção dos fatos e suas causas, pedirá que o leitor recomponha toda a racionalidade possível para perceber onde temos de fato um problema, ou uma solução mal gerenciada. Em resumo, as cidades precisam das árvores e elas não são o problema!
Para falar das árvores na cidade, em especial de tantas caindo, precisamos primeiro ir na causa destas quedas: uma tempestade de granizo que, segundo dados coletados pelo Jornal Estado de Minas com a Defesa Civil, desceu 42,6 milímetros de água em 2 horas e 50 minutos. Ou seja, 17,04 mm por hora. Considerando que temos uma precipitação anual de 1500 mm, portanto de 0,17 mm/hora, em média, choveu 100 vezes mais que a média esperada para o ano em uma tarde, e com ventos de 75 Km/hora! O serviço Meteorológico da CEMIG relata 75 mm em menos de uma hora em Contagem ontem. Com esse dado, foram 440 vezes mais chuva em uma tarde do que a média por hora/ano. Portanto, podemos ser mais precisos dizendo que tivemos uma segunda tempestade que matou pessoas em BH esse ano, tendo sido a primeira do Vilarinho, em novembro. No Vilarinho morreram mais pessoas, levadas pelas águas do córrego que ali a cidade um dia canalizou. Precisamos entender que inundações são muito mais difíceis de controlar e evitar do que quedas de árvore, mas que ambas estão associadas.
No dia 06 de dezembro, a tempestade matou uma pessoa e centenas de árvores em Belo Horizonte. Considero essa a informação mais importante deste texto e necessária para que os leitores abracem o projeto de árvores urbanas. Aqui também precisa ficar claro que as inundações do Vilarinho e outras partes da cidade vão ser piores se colocarmos a culpa nas árvores e não nas tempestades. Há um ponto fundamental que passa desapercebido pela maioria das pessoas: as piores inundações acontecem nas regiões menos arborizadas e mais pavimentadas da Capital mineira. Não é coincidência, pois afinal, a existência de solo permeável com árvores é a única maneira de evitar transbordamentos.
A necessidade de solo exposto para absorver a água é óbvia, mas as árvores tem um papel essencial nisso: elas retém a chuva nas copas, e assim desaceleram a chegado de todo o volume de água ao solo, dando o tempo necessário para absorção gradual da precipitação pelo subsolo, retardando o ponto de saturação de água no solo superficial, e assim evitando escorrimento e inundações. O sistema radicular também evita compactação do terreno, e aumenta a capacidade de absorção por volume cúbico de terra. Quer um exemplo onde isso funciona? Avenida Francisco Deslandes no Anchieta, cuja “cabeceira” tem o bem arborizado Parque “Julien Rien” e acima deste, a Serra do Curral. Por causa deste tamponamento florestal, essa avenida é uma das que menos inundam em BH.
A importância disto se intensifica quando se olha para as projeções do “International Energy Agency”, que aponta um aumento de 3,7 % nas emissões de Carbono em 2018, interrompendo um ciclo de diminuição. Lembrando que o Carbono atmosférico é apontado como principal responsável pelo aquecimento global. Porém, se olharmos o gráfico da NASA abaixo, veremos que em mais 30 anos fecharemos um século com partículas de Carbono acima de um patamar nunca alcançado em tempos geológicos recentes. A questão mais relevante é que essa ascensão na concentração atmosférica de Carbono se dá, na escala geológica, em um intervalo de tempo extremamente pequeno. Com isso, seguem-se todas as imprevisibilidades e extremismos climáticos, para os quais a ciência vêm alertando desde a década de 90. Haverá um ponto irreversível, mas antes de chegarmos nisso, o que as cidades podem fazer a respeito?
Fonte: NASA Observatory for Global Climate Change: https://climate.nasa.gov/climate_resources/24/graphic-the-relentless-rise-of-carbon-dioxide/
Primeiro e emergencialmente, se preparar. Aumentar as áreas de drenagem, em especial nas zonas de cabeceira dos antigos rios que hoje correm embaixo de avenidas. Criar parques com o objetivo primário de absorver chuva e aumentar a saúde geral do ecossistema urbano (por exemplo, intercalando áreas verdes dentro de regiões intensamente construídas). Intensificar investimentos no manejo e saúde das árvores de rua, incluindo podas sanitárias rotineiras (e não apenas voltadas para a proteção de fios). Converter sistema elétrico aéreo para subterrâneo. Criar protocolos de contingenciamento e proteção ao cidadão, com clara indicação de proibição de acesso a áreas de risco durante tempestades. Ou seja, combater a especulação imobiliária que tenta a tudo pavimentar, e pensar no bem-estar e segurança da população antes de tudo. Não se pode esquecer nunca que o acontecido nas regiões Centro-Sul no dia 06 de dezembro e no Vilarinho dia 15 de novembro, são catástrofes climáticas, em grande parte com danos imprevisíveis e improváveis de serem evitados. Ao longo do tempo, as cidades serão convocadas internacionalmente para contribuir para combater esses eventos, decorrentes exclusivamente do aquecimento global.
Para respondermos a esse desafio, precisamos entender que é preciso mudar o ecossistema urbano para que ele sequestre Carbono mais do que emite, ou que ao menos cheguemos a níveis balanceados de emissão/sequestro. Sequestro de Carbono atmosférico significa “fotossíntese”, portanto, mais e não menos, árvores. Para que um ecossistema florestal-urbano funcione, precisamos trabalhar para o rápido entendimento político de que é urgente investir em Secretarias de Meio Ambiente que abracem Parques e Jardins com mesmo esforço e investimento que abraçam saneamento básico, água e esgoto.
Arborizar é uma questão de obras, planejamento e segurança climática.