20.11.16
BIÓLOGOS FANTÁSTICOS E ONDE ELES ADOECEM
Sérvio Pontes Ribeiro
Assim como “Como treinar o seu dragão”, o “Animais Fantásticos e onde habitam” fala, indiretamente, de uma criatura em extinção, e ao meu ver fascinante: o biólogo. Ambos filmes mostram com muita beleza nossa paixão pela vida, em especial pela vida incompreendida pela sociedade e, portanto, perseguida. Mostra como poucos seres em cada comunidade são eternamente picados pela paixão pelo desconhecido, entendem a natureza de criaturas renegadas, e passam o resto da vida a sofrer e lutar pela iluminação de seus iguais quanto a importância de cada espécie que combatemos. No caminho, um mundo inteiro que envenenamos. Assim, mostram como o ser cientista da natureza é tão fundamentalmente ser biólogo, e não somente o químico, o físico ou o matemático!
Porém, somos mais, somos cientistas apaixonados pelas criaturas que abraçamos a estudar. Não sei se somos assim tão diferentes, ou se somos só aqueles que não esqueceram o fascínio que a natureza trás a qualquer um na sua infância (dado o sucesso internacional dos dois filmes que inspiraram este texto, parece óbvio que é a segunda opção). Talvez o biólogo seja aquele que não quis parar de fuçar seu jardim, que não tenha cansado de ser curioso. Não tenha achado um dia que isto é brincadeira de criança.
Somos sensíveis ao sofrimento de nossas criaturas e do mundo do qual nossa existência e saúde dependem. Mas no mundo do “real das outras pessoas”, muitas vezes somos contratados para monitorar o extermínio das espécies e dos ecossistemas que tanto nos fascinam. Resgate de fauna, licenciamento ambiental... tantos e tão importantes, mas associados a um fato muitas vezes cruel: a sociedade vai autorizar perdas irreversíveis. Nós, assim como os veterinários que fazem eutanásia, temos a obrigação de acompanhar estas mudanças. Fato é, são vários os que conheço que adoecem no processo. Não convencemos ainda o mundo a desenvolver de outra maneira.
Ao menos, já convencemos que é importante tentar, é importante pesar as perdas ecossistêmicas como perdas de serviços ambientais que, se preservadas, resultam sim em dinheiro, em desenvolvimento, em qualidade de vida e felicidade social. Já ensinamos a muitos de que precisamos das mais “nojentas” criaturas e de seus ecossistemas saudáveis, para estarmos ricos e bem, coletivamente. Mas falta muito, e sabemos que o tempo é pouco. Para minimizar ao máximo os danos sobre a vida enquanto não alcançamos a perfeição do respeito à Natureza, acumulamos danos e frustrações sobre a nossa vida solitária de biólogos!