29.03.14
SEXO E A PLAYBOY EM TEMPOS DE ESTRUPOS
Sérvio Pontes Ribeiro
Sérvio Pontes Ribeiro
Nos Estados Unidos, até a década de 60 haviam pessoas presas sentenciadas pior do que assassinos, por terem sido flagrados fazendo sexo oral! Considerado sodomia, dava uma condenação máxima! Um adolescente pego se masturbando no seu quarto poderia ser preso por 30 anos! Pior que isto, nos Estados do sul, a Lei até 1964 (quando a uma lei federal mudou isto) era proibido aos negros se misturarem com brancos. Vou falar de novo: até o ano em que deixamos de ser uma sociedade progressista para virarmos uma ditadura militar, era crime um negro beber água em um bebedor de branco em vários Estados nos Estados Unidos! Homossexualidade, não precisa nem dizer, também era crime.
Mais bizarro que proximidade temporal destes tempos, é o fato de que todos ainda acreditam que a revolução sexual tenha sido feita pelos americanos hippies pelas ruas e praças, com suas drogas e vida livre. Bem, o mais provável é que esta liberação começou na Inglaterra, ocupou a juventude americana, mas... na prática, quem de fato revolucionou a sociedade americana foi a Playboy Fundation! Sim, e fizeram um trabalho sério. A mesma revista na qual vários de nós se masturbou na juventude, claro, não queria que masturbação fosse crime! Esta foi a época de ouro da apropriação da cultura - e pior, da contracultura - pelo capital financeiro. Os desejos reais de mudança eram feitos pelas pessoas normais, mas estes desejos eram imediatamente convertidos em produtos, embalados, e vendidos! No caso, a sexualidade... MASCULINA, e o corpo... FEMININO! Lembrem-se a bela imagem dos Playboy´s Club: ninfetas de maio vestida de coelhinhas, e homens de terno. A Playboy não só se apropriou da revolução sexual, como a catalisou, acelerou e deturpou! O capitalismo fez do que deveria ser a liberdade igualitária uma mera democratização dos corpos das mulheres, agora objetos voluntários e não pagos em prostíbulos.
Bem, será que ainda não achamos que mulher de pouca roupa e mal comportada deve ser atacada porque aprendemos que podemos, sem permissão da foto de mulher pelada, ejacular nela? Me apavora é ver o dono deste Império posar de o grande "Che Guevara" (com o perdão do trocadilho) da mudança comportamental americana. Se tivesse sido isto, as feministas ocidentais seriam mulheres felizes, leves e realizadas, e não as criaturas nervosas, anti-masculino (embora masculinidade não é crime, não é ruim, não é machismo, é o que somos) que são. Bem, eu também seria esta criatura nervosa se músculos e genitálias masculinas fossem o objeto de desejo das mulheres, e não a busca da afetividade (ou algo mais, além dos músculos e genitálias que valham seus comentários nervosos). Pior ainda, se isto fosse a busca das mulheres não por acharem que é isto que homem tem para dar, mas porque foi este o modelo que o capitalismo de consumo impôs educacionalmente na cabeça de todos!!
Para você machão que não vê isto, só se imagine em uma sociedade cercada de musculosos seminus em tamanho gigante a cada esquina, em fotos ou ao vivo... imagine sua barriga não sendo normal mas um problema pior que demência mental, e me diga: houve mesmo uma revolução sexual? Se houve não foi aqui nos trópicos, onde o que temos de bom, já tínhamos antes do que nos venderam goela abaixo - afinal o sexo dourado das revistas foram um dos anestésicos mais poderosos da ditadura militar!
O sexo é biologia, é parte de tudo, é parte da evolução das partes mais delicadas de nosso cérebro. Há fortes indícios que toda nossa sensibilidade artística e nosso ócio criativo, o desejo de bem viver, e a própria felicidade, evoluem da necessidade da reprodução sexuada. O sexo está na base da nossa capacidade, portanto, de progredir e dominar a nossa própria biologia e transcendermos civilizatoriamente. Porém, este enorme poder existencial nos foi apropriado como todo o resto, por este modelo selvagem, Neo-feudalista em que vive o mundo.
Imaginem então mulheres sendo queridas por serem quem são: criaturas distintas, poderosas, independentes, ardilosas (no bom sentido), diplomáticas senão melhores negociadoras que nós, encantadoras, delicadas e choronas, matriarcais, afetivas, senão implacáveis e incapazes do perdão ou, ao contrário, provas vivas do abandono instantâneo de si mesmas. Ou seja, imaginem se fossem amadas pelo que são, mesmo que naturalmente desejadas pela beleza que trazem.