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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

04.08.12

O real valor do conhecimento - castelos de areia


Sérvio Pontes Ribeiro

Neste caso, me basta comentar sobre a delicada e bela pesquisa sobre... construção de castelos de areia, em anexo. Parece pouco, para quem não olha com inteligência para o mundo. Olhar com inteligência para o mundo não é inato a ninguém, ou é a todos. O fato é que a inteligência do olhar é fruto do aprendizado formal sobre o conhecimento já compartilhado pela humanidade. Olhar com saber é o que chamamos de construção de hipóteses dedutivo-indutivas de Popper, e só é possível sob o iluminado conhecimento prévio. Curiosamente, o olhar perdido sobre o castelo de areia do filho que cai, auxilia na formulação de hipóteses e teorias que contribuem para o entendimento da física dos materiais, e pode gerar tecnologia e soluções. Da mesma forma, um dia olhando como pequenas Dorymyrmex sumiam na areia de uma pria de rio, entendemos como elas podem bioindicar impacto em solos arenosos aluviais!

 

Por isto estamos em greve, por isto o Brasil é atrasado! Porque estas coisas, aqui, causariam enorme surpresa numa grande maioria das pessoas com suficiente recurso financeiro para poder ter acesso a este conhecimento, mas nunca teve acesso ao valor deste conhecimento!

 

http://www.nature.com/srep/2012/120802/srep00549/full/srep00549.html

 

 

 

Fonte - Nature

04.08.12

O REAL VALOR DA EDUCAÇÃO DE UMA NAÇÃO


Sérvio Pontes Ribeiro

O Brasil ainda tem uma estranha cultura quanto ao entendimento do valor da educação. Um artigo recente sobre investimento em educação, escrito por um professor universitário aposentado me surpreendeu. Não pude deixar de me incomodar com a análise do colega sobre o que faríamos com 10% do PIB fixado para a educação quando não for mais prioridade investir na área, em especial quando precisarmos investir em áreas como saúde, infraestrutura etc. O incômodo surge de ver um ex-professor universitário não perceber que investir em educação é investir em todas estas outras as áreas! O Presidente da ANDES em entrevista recente forneceu o seguinte dado: globalmente, o investimento em educação retorna 20% de lucro ao ano! Como pode, se cada pessoa leva vários anos para ter retorno para si deste tempo pessoal investido? De fato, um diploma demora tanto quanto um emprego na área do conhecimento escolhida por cada pessoa, mas o conhecimento aprendido hoje já é compartilhado com a sociedade hoje!

               Para ilustrar, me lembrei de um colega que tive ao fazer meu doutoramento em Ecologia na Inglaterra, que um dia entrou no “pub” do campus de terno e gravata para comemorar seu emprego... no banco! Eu obviamente estranhei, pois era financiado pelo Brasil para ser Ph.D. em um país que tinha uma taxa de 0,02% da população com doutorado, e ainda tem até hoje, um atraso enorme em comparação, por exemplo, à Índia, China ou México. Só para mencionar, todos estes países já têm uma produção de Doutores acima da demanda das Universidades – ou seja, todos os professores universitários são doutores e há sobra para o mercado (para constar também, destes países o pior crescimento de PIB no primeiro semestre de 2012 foi o México, com 4,6%). Certo de que trabalharia na área que escolhi, lhe perguntei se o banco não era uma enorme frustração para um doutor recém-formado. Ele tranquilamente disse que ter trabalhado com Ecologia quatro anos da vida dele já foi um ganho, e que continua pensando como um ecólogo, mas a competição era dura na academia, afinal. O fato é que foi contratado como ecólogo, pois as ferramentas matemáticas hoje usadas na ecologia são úteis ao funcionamento dos bancos, bem como as ferramentas das mais diversas ciências. Não é coincidência que os bancos funcionem tão melhores por lá! Quantos leitores conhecem um gerente de banco com doutorado? Fica óbvio que o alto nível de educação é diretamente relacionado com o bom funcionamento de qualquer Instituição ou serviço (e a falta deste bom funcionamento não é grande parte do custo Brasil?) e, no final das contas, isto só se alcança com superávit de mão de obra altamente qualificada. Assim, quem se preocupa com saúde e infraestrutura deveria se preocupar com educação! Um engenheiro melhor formado significa estradas que durem mais tempo, e um médico melhor formado significa um diagnóstico mais rápido, correto e acesso justo à saúde digna para todos! Em qual área carente do Brasil alguém consegue desvincular soluções do investimento em educação de nível superior? Não conheço uma sequer!

               Em um futuro bem próximo teremos que enfrentar mudanças inevitáveis, sérias e rápidas. Teremos que gerar alimentos e elevada produtividade fotossíntética urbana para sustentar nas cidades mais de 70% da população crescente, teremos que alocar migrações em massa devido às mudanças climáticas, garantir conservação da biodiversidade em uma paisagem mutante e super explorada, criar um programa de defesa e uso adequado da água, das florestas nativas para sequestro de Carbono, produção de chuva e proteção de solos agrícolas. Efetivamente, a nossa coletividade não sabe fazer nada disto! Mesmo com todas estas prioridades técnico-científicas, ainda estamos aqui discutindo o papel da educação para melhorar o atendimento dos serviços públicos, humanização das polícias, funcionamento de transporte e saúde básica! Entretanto, há tanto mais a se fazer e tão pouco tempo para treinar as pessoas, dado o atraso em que nos encontramos. Em um mundo futuro chegando a 12 bilhões de seres humanos (falo dos próximos 25 anos), ou investimos ao menos 10 % do PIB em educação (e mais 10% em ciência e tecnologia) ou perderemos a nossa soberania.