27.07.12
A PODA DE ÁRVORES, A POPULAÇÃO E A CEMIG
Sérvio Pontes Ribeiro
Não posso negar que os barulhos de serra elétrica na vizinhança me deixam com um certo nervosismo traumático (aliás, que biólogo não se arrepia com este barulho?). No entanto, quando chegam os homens da poda da CEMIG na minha esquina, a mais densamente arborizada do bairro, a estória que se segue é bem tranquila, já há uns anos. Da minha janela localizo o encarregado, dou-lhe bom dia cordialmente e solicito cuidado com o jardim e peço uma poda mínima. Ele se apressa a dizer que já estava mesmo orientando os escaladores a fazerem isto. Segue-se uma poda discreta, predominantemente feita com podão e serra manual, e rápidas olhadas dos funcionários para meus ânimos dentro de casa, a cada galho maior que cai. Acompanho com minha xícara de café e janela aberta, e tudo corre bem. Um olhar desatento não perceberia a poda.
Há uma ano que já trocaram a fiação da minha rua por aquela mais resistente ao toque dos galhos, e menos espalhada, e pelo que vejo na vizinhança (somado ao recente corte criminoso pela Prefeitura de um ipê no Caiçara), parece mais crível que todo este cuidado reflita minhas inúmeras reclamações, com boletins policiais, denúncias no Ministério Público e artigos para os jornais. O fato é que estando um cidadão fiscalizando e cuidando das árvores da cidade, tudo lhes vai bem! A poda demora mais, pede mais treinamento mas, afinal, é o ônus da CEMIG para com o patrimônio arbóreo da cidade, certo? Mas para que cuidado na maioria das esquinas, onde o próprio morador é o primeiro a pedir que a árvore seja removida e não podada? Aí mete-se uma serra elétrica, tira-se um lucrativo tronco largo, desequilibra-se a árvore e termina rápido!
Mesmo sabendo que pode acontecer, faço a defesa dos trabalhadores que fazem esta poda (sem nenhum vínculo com meus times de escaladores, deixo claro!!). Prefiro crer que estejam recebendo cada vez mais orientações para não fazerem isto, até porque o número de pessoas defendendo as árvores tem aumentado e feito frente aos velhos (sim, são quase sempre inocentes velhinhas e velhinhos, ainda avessos às folhas no chão – sinal de natureza é sinal de sujeira!! - temerosos de tuberculose e doenças de bicho, que querem a cidade erradicada de suas árvores).
Fica então a lição. A culpa é nossa! Posso questionar se o Poder Público não deveria se antecipar à ignorância em um país como o Brasil, e agir em defesa do bem estar ambiental urbano antes mesmo da população entender o que seja isto, mas deveria? Vejo mais razões para ser educador que político e continuar escrevendo, e estimulando a cada leitor para que suba nas suas janelas e vigiem as podas de suas árvores, cobrem da Prefeitura fios subterrâneos e mais árvores antigas de pé e ancoradas, invés de lucrativas mudinhas compradas dos amigos (com o perdão da liberdade poética, não é uma denúncia). Prefiro lembrar às pessoas que nosso bem estar não é mercadoria, e insistir que não se esqueçam que a escolha de termos uma floresta urbana é nossa!