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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

28.06.11

Para que Paulo Renato não seja esquecido, pelos motivos certos!


Sérvio Pontes Ribeiro

Morreu  Paulo Renato, ex-ministro da Educação de FHC, o qual não pode ser esquecido por tudo de RUIM que fez pela pesquisa e ensino superior no Brasil. Toda minha geração gastou os primeiros anos de doutorado lutando para permanecer no Brasil, e a maioria sucumbiu. Enfatizando o fato, de 1998 a 1999, nada menos que 8.790 recém doutores não conseguiram voltar ou permanecer no Brasil por falta de oportunidades, como descrevemos no artigo abaixo, que seguiu ao Movimento dos Jovens Doutores, que começou a mudar as coisas só em 2002, às beiras do fim do governo FHC.

20.06.11

Sobre a evolução da crueldade familiar à guerra.


Sérvio Pontes Ribeiro

O blog do Stephen Kanitz há um excelente texto sobre as razões ecológicas para Abraão ser testado por Desu com a oferta de seu filho em sacrifício. Muito interessante a interpretação histórica desta lenda, à luz da biologia evolutiva e ecologia de populações. Sacrificamos a diversidade genética em uma crise de alimentos, mas preservamos a fecundidade média do grupo. Ou seja, em todos estes sacrifícios o alvo é o macho. Afinal, se estamos vivos em uma crise alimentar é porquê já somos os melhores genes para estas condições extremas. Assim, se não há comida para todos e se basta um macho para fecundar todas as fêmeas, matava-se um dos machos, de preferência um adolescente que ainda não luta nem ajuda tanto!

 

O extremo organizado e institucionalizado deste processo em todas sociedades primitivas é a guerra. A guerra original preserva a estrutura tribal básica, e manda os homens jovens para um processo de seleção natural óbvio e cruel: ou mata ou morre. Expandindo mais ainda, a real barbárie então é a violência contra mulheres e crianças! Portanto, se a violência tem um componente evolutivo que é cercado de ritos e tabus, que a mantém dentro de uma esfera controlada da disputa entre machos excedentes, a violência descabida, imoral, televisiva e de entertenimento que é promovida por Holywood e todas as redes de televisão abertas do mundo, é o nosso bioindicador de colapso breve?

 

http://evolution.melhores.com.br/2011/06/sacrificar-o-pr%C3%B3prio-filho-em-nome-de-deus-/comments/atom.xml

19.06.11

Casos da Bahia 1 (sociobiologia e jogos de poder entre homens e mulheres à luz da Tenda dos Milagres de Jorge Amado)


Sérvio Pontes Ribeiro

Dada uma ocasião, uma demônia, ou algo parecido com uma nas letras de Jorge Amado, se enfezou com a liberdade e o poderio viril de Pedro Arcanjo. Resolveu tomá-lo e com seus poderios magísticos, o brocharia definitivamente. Se transformou em uma negra linda e insuportavelmente sedutora, capaz de destruir a alma de um homem em desejos só de vê-la passando, com o balancear de suas ancas. Esta criatura, chamada por ele de Iabá (que é também designação de figuras femininas mais dignas e belas no panteão afro-religioso) tinha como característica não amar, e não ir ao orgasmo, o que tornava a mesma uma criatura poderosa, que à beira do gozo, leva sua vítima à busca intangível do prazer daquele ser entesado de ponta a ponta de seu corpo ardente, e que em fogo transforma o sexo no dreno final da virilidade do homem por ela encantado. A destruição é moral, afetiva, sexual e pública, e o farrapo humano nunca se levanta de novo daquele encontro com sequer traços de dignidade e amor próprio.

 

Mas, Pedro é filho de Exu, que lhe avisa do perigo. Com ajuda de Ossain, que lhe prepara um banho certo com as ervas devidas, e de Xangô, que lhe dá orientações exatas sobre como banhar seu órgão e o que fazer com a demônia, na hora certa, Pedro resolve enfrentá-la.

 

O que segue é uma descrição maravilhosa da dança de sedução de um para o outro, rolando presos em prazer por diferentes paisagens e delírios, por três dias e três noites. A loucura segue e a Iabá quer, deseja gozar diante de tanta resistência, e do fato de Pedro não se quebrar em pedaços por ela:

 

de repente, deu-lhe um tangolomango e em gozo ela se abriu como se rompe o céu em chuva. Irrigado o deserto, rota a aridez, vencida a maldição...”

 

Segue-se pequenos procedimentos que pouco importam, mas importa que vencida, que quer dizer, gozada, a Iabá virou negra Dorotéia. Oxumaré determinou a festa de amor, e Xangô lhe deu um coração.

 

Assim, mantendo-se distante e frio, Pedro Arcanjo deu a Dorotéia o melhor e mais precioso amor. Aquele que não se dobra aos caprichos, aquele que não cede aos encantos, e permanece livre. Pedro foi para Dorotéria o macho alfa, que conquista, seduz, apaixona, fecunda, e parte para a próxima, mas sem perder nenhuma. E Dorotéia, amada assim, nunca o teve preso e de todo seduzido, pois de cara, ele a percebeu: a mãe para ser, a fêmea em busca do melhor macho, mas que quer só para ela, mesmo que ele broche para sempre.

 

Fundamental notar, que este brochar para sempre, é depois de fecundá-la! Isto é fundamental de se entender: o “brochar” é na atitude para que, agora manso, permaneça  em casa e cuide da prole. O brochar pode ser físico? Pode, pois ela buscará por outro garanhão para fazer nela o próximo filho, que ele, o brochado marido, cuidará como seu.

 

Mas imune, foi para ela mais amor, um amor eterno e congelado em paixão eterna, de quem lhe dá a liberdade de amar de volta, sem os benefícios calculistas da reprodução e do Darwinismo.

 

Porém, é encantadora, e perturbadora também, a revelação que se segue. Rosa de Oxalá, por sua vez, ensinou a Pedro a dor de amar, e o venceu. E é a ela, que ele se prendeu. Também, para sempre.

 

E aí pergunto, sem teoria nenhuma para me explicar: se quebram-se juntos, se enlouquecem em sintonia, e se perdem ao mesmo tempo, realizados e transbordantemente apaixonados e livres, mesmo que Darwinianamente (ou Freudianamente) incompatíveis, como seria? Amores eternos nascem daí? São os casais errados que insistem? São os eternos amantes, que nunca juntos, nunca separam? Como explicar tais coisas? Para tais coisas, tão perto e tão longe do lógico, simplesmente entrego a toalha!

04.06.11

Casos da Bahia 2 - a extinçao da Palomitas Sumatra: vamos acabar com os tabacos brasileiros de qualidade?


Sérvio Pontes Ribeiro

Abaixo segue um trecho da página (http://www.bahiaflaneur.net/blog2/2010/09/cigare-et-bahia-un-couple-qui-dure-1.html), sobre a elevada qualidade técnica das cigarrilhas Palomitas, produzida pela recentemente extinta CHABA, da Bahia. A empresa foi, literalmente tratorada pela ANVISA, que destruiu estoques e estruturas, como se a fábrica produzisse maconha! Além de tabaco de qualidade, a fábrica, de porte pequeníssimo diante das grandes produtoras de cigarros de papel, pólvora e tabaco transgênico com altíssimos níveis de nicotina, gerava empregos diretos e indiretos que chegavam a 15 mil pessoas.

 

Os leitores usuais devem estar estranhando um biólogo, defensor de causas ambientalistas, sociais etc, está aqui se dispondo a defender uma fábrica de cigarrilhas e charutos. Mesmo sendo um sabido consumidor destes produtos, se não fosse, talvez tomasse esta posição, por razões bem simples.

 

Primeiro, sempre que um produto, fato, cultura, for combatido de maneira massacrante pela imprensa e poderios econômicos, desconfie. Tabaco faz mal, mas chumbo da gasolina também, agrotóxico mais ainda, produtos químicos de limpeza, REFRIGERANTES, açucar refinado, fazem mal demais, independente da dosagem de uso, e são liberados para crianças!

 

Assim, sem tentar entender que diabos há de tão pior no tabaco industrializado, pois de ruim, há sim muitas coisas, tento salvar uma milenar interação homem-planta, que vai se perdendo neste processo.

 

Tabaco é medicinal, é xamânico, tem efeitos positivos neurológicos (ninguém fuma para morrer, quem não fuma não sabe o que há de bom na nicotina, mas há) quando ingeridos da forma certa, e assim o foi por centenas de anos. E a forma ingerida era exatamente as folhas puras, secas e enroladas. Sem papel tratado quimicamente, sem anéis de pólvora, sem aditivos, como os “caretas” tem.

 

Assim, uma outra razão para falar deste abuso, é que por fazer “veneno”, a CHABA fica indefensável. Mas a verdade é que produção de cigarros não é proibida, e as taxas que a ANVISA passou a cobrar levou ao fechamento os produtores pequenos, comprometidos com qualidade, com a produção de puritos e charutos, feitos de forma tradicional, com variedades trazidas de Cuba. Enquanto isto a Souza Cruz vai de vento e popa, suportando taxações excessivas, e espalhando cigarros de qualidade profundamente duvidosa no mercado. É como se taxações sobre bebidas alcoólicas fechassem os produtores de puro malte na Escócia e deixasse blends falsificados paraguaios circulando, ou fechasse as pequenas cachaçarias de altíssima qualidade, de Minas Gerais, e deixassem a 51 envenenando a população.

 

Este sim é um risco real, não só à saúde pública, mas ao direito de busca de produtos legais de qualidade. Imagina se a AMBEV apóia a ANVISA e lá vamos quebrando Beckers, Devassas, Cerpas, e fiquemos à mercê de Bhramas e Skols venenosas, cheias de aditivos químicos e outros lixos? Isto serve para orgânicos x transgênicos, serve para tudo que é bom x tudo que é ruim!

 

Isto não dá. Se tabaco é legal, a ANVISA não pode quebrar os produtores de alta qualidade e manter os vendedores de mata-ratos por aí. Isto é retrocesso dos mais absolutos possíveis.

 

O texto, original, em francês, sobre este extinto produto brasileiro de exportação, destruído abusivamente pelo pode público:

 

“Fernando Fraga est corpulent et fume six cigares par jour, en ce mois de septembre 2010. Celui qui a travaillé pendant tyrente ans pour l’un des plus célèbres fabricants de cigares de Bahia et du Brésil, Suerdieck*, marque centenaire qui ferma en 1999, semble pourtant en forme. Depuis 1998, le natif de São Félix, qui fait face à Cachoeira, s’est associé avec Roberto Barradas de Almeida et Dorette Meyer pour fonder l’usine Chaba, dans la ville d’Alagoinhas, au nord de Salvador. L’entreprise emploie soixante-trois personnes, après avoir démarré avec trente ouvriers, puis connu une apogée en 2002 avec plus d’une centaine d’employés… Les feuilles de tabac utilisées, pour le marché interne, sont plus claires que celles du marché classique de Bahia, car les cigares sont ainsi “considérés plus légers”. Entre les fameux “barreaus de chaise” Don Pepe et le dorénavant centenaire cigarillo Palomitas**, la marque vient de lancer un “blend” Pimentel Exportação…

* Marque qui fabriqua jusqu’à 180 millions de cigares l’année 1956. (photo Fernando Vivas).
** M. Fraga a racheté a l’ancienne fabrique Suerdieck le droit d’user le nom et la marque de leur plus fameux cigarillo. »