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O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

17.04.11

Quem responde contra as defesas de Belo Monte?


Sérvio Pontes Ribeiro

 

Caro Leitor,

 

Há cinco dias começou aqueles emails de “faltam 5 dias para pararmos Belo Monte”. Desta vez, otimisticamente alavancados pela decisão da OEA de acatar as denúncias dos povos indígenas afetados pela barragem, e cobrar a suspensão da obra por parte do governo brasileiro. Enfim, fiquei feliz, nunca me pareceu de fato que era lugar para tal tipo de impacto, e em escala como será. É um desastre, não resta dúvida... ou resta? Bem, hoje cedo entrei no google com “notícias Belo Monte” para tentar descobrir no que tinha dado. Curioso ou não, nada havia falando diretamente sobre a ação da OEA, ou sobre os diversos abaixo-assinados e apelos à Presidenta contra este empreendimento. Mas havia, em rápido e notável destaque (com ecos da Folha de São Paulo e outros jornais) dois blogs que clamavam na direção oposta! Um do FORT (Forum regional de desenvolvimento econômico e sócio-ambiental da Transamazônica e Xingu- http://fortxingu.blogspot.com/), gerou os 10 motivos para defender Belo Monte, replicado pelo blog da Empresa de energia que gerencia a obra (http://www.blogbelomonte.com.br/categoria/noticias/).

Até aí, estaríamos apenas falando da melhor organização do setor produtivo, do capital contra a sociedade organizada. Mas vai além da óbvia falta de penetração dos grupos contrários à Hidrelétrica na imprensa e mídia eletrônica. A surpresa vai no caráter e nível da argumentação a favor.

Como macaco velho que me considero ser, encontrei-me lendo em processo de convencimento, por uma razão simples: a argumentação procede, ao menos no raciocínio fundamental dela: a) a ignorância permeia os debates e a sociedade está sendo ludibriada e abandonando uma opção ambientalmente correta (com baixa área impactada, e energia limpa, ao contrário das fontes poluentes usadas pelo mundo todo); b) há um inimigo, agora materializado na OEA, que são os grupos econômicos e nações estrangeiras, atentas e prontas para erodirem nossa soberania e nossos projetos ambientalmente mais competitivos.

Beeem, eu usei muitas vezes abordagens similares (mas sempre apoiado em trabalhos científicos e dados, que eu abria e esfregava na cara do debatedor oposto) para combater a entrada dos transgênicos em 1999 e 2000. Por saber como argumentar com os fatos positivos e convencer, me vi agora na pele do leigo, lendo isto e... sendo convencido.

São claras para mim as falácias, mas são para você, que ataca a Belo Monte, sem nenhuma penetração na imprensa? Quem afinal, responde contra as defesas da Belo Monte? Será que estamos contra-atacando os “factóides” oficiais, ou estamos criando os nossos próprios factóides ambientalistas?

 

Então vamos ao teste: entre nos comentários deste post e retruque as 10 razões para termos a Belo Monte. Rebata você também ao FORT! Será que sabemos?

 

01 – A usina de Belo Monte vai gerar energia limpa e renovável, contribuindo para aumentar ainda mais a eficiência do sistema energético brasileiro e reduzindo de forma significativa a dependência dos combustíveis fósseis.

02 – A construção da usina de Belo Monte vai gerar emprego e desenvolvimento a uma região carente de infraestrutura e de serviços públicos, promovendo uma revolução econômica na região de sua influência.

03 – Mais de seis mil famílias – mais de 25 mil pessoas – que hoje moram em palafitas em condições sub-humanas, serão realocadas para bairros com infraestrutura, saneamento básico, energia elétrica e moradias dignas.

04 – Usina de Belo Monte terá um reservatório de apenas 516 quilômetros quadrados, sendo que metade disso hoje já é o próprio leito do rio e pastagens. O desmatamento será mínimo e a usina terá uma das melhores relações tamanho do reservatório x capacidade instalada.

05 – A construção da hidrelétrica de Belo Monte foi precedida por mais de 30 anos de discussões e por amplos estudos, que garantem a redução dos impactos ambientais. Antes do licenciamento da obra, foram realizadas centenas de reuniões e várias audiências públicas, esgotando-se o debate sobre o projeto, que foi adequado à região e oferece garantias de compensações ambientais e sociais à região.

06 – A hidrelétrica de Belo Monte é um projeto estratégico para o Brasil, pois irá gerar a energia firme, limpa e renovável de que o país precisa para continuar se desenvolvendo de forma sustentável. Nos últimos dez anos, milhões de pessoas saíram da miséria e da pobreza graças ao desenvolvimento brasileiro, que não pode parar por falta de energia elétrica.

07 – Existem muitos interesses comerciais por trás da ação contra a construção de Belo Monte. Sabemos que os países desenvolvidos e em desenvolvimento hoje possuem uma matriz energética excessivamente suja ou dependente de usinas nucleares. O Brasil é o país em desenvolvimento que melhores condições possui de aumentar a sua capacidade de geração de energia usando fontes renováveis.

08 – Países ricos e em desenvolvimento investem hoje bilhões e bilhões de reais em busca de fontes renováveis de energia elétrica, enquanto o Brasil não aproveitou nem sequer a metade do seu potencial hídrico, possuindo assim uma margem fabulosa para continuar se desenvolvendo sem depender tanto de combustíveis fósseis ou nucleares. Esta é uma vantagem competitiva no cenário global que incomoda e atrapalha muitos interesses, o que justifica a injeção de muitos milhões de dólares por corporações globais na campanha contra a construção de Belo Monte.

09 – A construção de Belo Monte, associada a outras ações previstas para a região, como o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS) do Xingu, vai mudar para melhor a vida de milhares de pessoas em toda a região. Estas pessoas terão melhores oportunidades na vida, com acesso a empregos de qualidade, capacitação, formação e, acima de tudo, dignidade.

10 – O povo brasileiro é soberano, com plenas condições de escolher o que é melhor para o seu País. Somos a favor da construção da hidrelétrica de Belo Monte – com os cuidados ambientais e sociais necessários – apoiamos este projeto estratégico para o Brasil e pedimos para organizações e organismos internacionais que parem, de uma vez por todas, de tentar impedir o desenvolvimento do Brasil.

 

ps - Primeira boa resposta, de Tate Correa Lana, no meu facebook: simples como isto:

 http://www.conservation.org.br/publicacoes/files/politicaambiental7.pdf

16.04.11

Simpósio à vista, não percam!


Sérvio Pontes Ribeiro

Não percam o simpósio:

http://www.terralab.ufop.br/symposium/index/index.html

 

 

O público alvo são alunos interessados em desenvolver sua carreira através de doutoramento em áreas transversais do conhecimento, voltadas para o entendimento e conservação do planeta Terra e sua Biota. Preços diferenciados para os alunos das universidades envolvidas. Mais informações, veja email no Site.

16.04.11

A Sociobiologia do mal II: o bem biológico, o mal biológico, os hippies, o capitalismo.


Sérvio Pontes Ribeiro

Queridos alunos,

 

Seguem algumas referências a pensadores que contrastaram em sua forma de ver o homem e sua natureza interna. Eu diria que pequenos Rousseaus e Hobbes me manifestam em sala quando o assunto surge. Importante perceber, neste embate mais interno do que científico, algumas curiosidades interessantes.

 

Primeiro, de qualquer lado que estivessem, estes pensadores eram preocupados com o bem comum. Hobbes, que aclamava pelo controle do mal do homem (guerra de todos contra todos - Bellum omnia omnes, porém, era anti-naturalista e pregava a sociedade como forma de combater a nossa biologia cruel. Já Rousseau, ou mais contemporaneamente, Thoreau (um dos grandes mitos de base do movimento hippie), criam suas obras baseados em uma biologia amena (o bom selvagem), e no altruísmo na base de nossos instintos. Contrários portanto à sociedade, pregavam a re-integração do homem com a natureza.

 

O que claramente é um paradoxo é que o temor a uma biologia cruel fundamentou pensadores que dão sustentação aos modelos capitalistas mais cruéis, antropofágicos e degradantes de nossos recursos naturais!

 

Ao contrário, os pensadores que se apoiavam em um bem natural ligado à própria biologia do homem, e desapaixonados pelos aspectos cruéis da sobrevivência das espécies, fundamentaram todos os movimentos sociais contemporâneos que, de certa forma, nos deram alguma chance de sobrevivência na terra.

 

Sem a visão destes homens, o “ecologismo” não teria tido o alcance que teve, pautado somente na ciência. De fato, a pesquisa científica em prol do Meio Ambiente é hoje uma poderosa arma para a proteção de nossos recursos, sua sustentabilidade, e de um conceito de qualidade de vida que transcende o conforto tecnológico e se assenta na preservação da vida na Terra. Porém, a força política que leva os recursos financeiros para esta área do conhecimento surgiu da contra cultura. Foi neste caminho que cientistas alternativos fizeram as denúncias mais sérias sobre a degradação ambiental nos Estados Unidos (Silent Spring, Rachel Carson, 1962 e The Pesticide Conspiracy, Roberth van den Bosch 1980), em livros, pois as revistas científicas não queriam divulgar dados contra a revolução verde!

 

Afinal, se creres na essência do bem, o bem fará pautado na biologia! Se na essência o mal, vai temer e distanciar de si mesmo. Será que este impasse inesperado já aponta para o bom instinto? Será que salvaríamos afinal aquela velhinha enrascada se isto nos pusesse em risco nós mesmos, devido à genética do bem? Ou, egoisticamente, nosso cérebro criou esta percepção de um bem, que claramente tem consequências abrangentes na nossa sobrevivência?

 

Somos a nossa própria “Matrix”, imaginando o bem e escondendo os genes que nos comandam? Seria a surpresa de ver alguém i – ou amoral, cometendo crimes terríveis ou violências de guerra, tão paralisantes à imprensa, por nos depararmos com alguém livre da máscara da co-existência pacífica? O mal é tão explicável por diferentes hipóteses, de fato.

 

Porém, o que explicaria o fascínio, a emoção e o conforto de presenciar ou experimentar a bondade alheia? Improvável de ser só imaginação, ou resquício do afeto lactante materno... há de haver mais!

 

Agora, que haja o tão perceptível BEM, será então ele biológico?

 

Nota do autor – este texto foi escrito meses antes do massacre de Realengo, o qual, ao menos a mim, causa a certeza de que tanta maldade é repugnante demais para ter origens biológicas, restando a CULPA por tais existências ao acumular das pressões artificiais e cruéis que as sociedades modernas causam em gente já doente. Caso queira saber o que eu realmente penso, não evoluímos para lidar com tais indescritíveis atrocidades.

04.04.11

“TORNAGHI, Alberto. O que é cultura digital” – e o risco da perda de introspecção criativa e do revolucionário individual?


Sérvio Pontes Ribeiro

O buletim 10 “Cultura Digital e Escola”, da TV Escola, traz um texto de Alberto Tornaghi, o qual discute de fato traz várias questões importantes, mesmo que de amplo conhecimento. A visão de uma cultura digital decorrente da abertura de textos e idéias é um fato recente mas de grande impacto acadêmico. Nas ciências, ainda impera a necessidade de um crivo de três avaliadores anônimos, além do editor para que uma revista de reconhecimento internacional aceite um trabalho científico. Mesmo assim, a grande Física já tem seus jornais abertos, onde a publicação é de inteira responsabilidade do autor, e do leitor ao avaliar sua importância. Este é o princípio do “referee”, ou avaliador, reduzido ao referee-leitor. Entretanto, na ciência este modelo não decolou, pois fica o enorme trabalho de ler e criticar severamente cada trabalho lido. Diante do crivo editorial, mesmo que a leitura crítica ainda seja mandatória, há a certeza de que alguma análise prévia valida o texto em leitura como boa ciência.

            Entretanto, esta formatação técnica e cirúrgica relacionada às publicações científicas não prevalece nas outras etapas da construção do conhecimento. Cada vez mais cientistas se agrupam em “chats” para discutir metodologia, análises de dados, ou mesmo para compartilhar dados e gerar trabalhos mais abrangentes. O grande amparo da cultura cibernética na ciência talvez seja mesmo a moderna filosofia de compartilhamento público de dados, e manutenção da privacidade/propriedade das idéias apenas.

            Já na esfera educacional e de divulgação, a norma a valer e a rapidamente mudar o mundo é de fato o da auto-exposição. Este blog, e todos os outros, não são senão o próprio crivo do autor, solitário e extremo, um extremo oposto dos wikis, provavelmente. De um lado, seu valor de critério e conhecimento autoral, não referendado por ninguém. Do outro, nos wikis, o crivo constante e extremo da rede de usuários e construtores. Acredito bem que o modelo de referees clássico na ciência esteja no meio do caminho, e como solução mediana e consagrada, lá deverá permanecer e se otimizar mediante às novas ferramentas.

            Destas novas ferramentas, o texto de Alberto Tornaghi trouxe algumas novidades técnicas bem como fatos novos para minha reflexão. A construção do BrOffice coletivamente foi tão inesperado quanto a maratona para o open office cingalês. Na verdade, nem tanto, pois já utilizamos uma fantástica ferramenta estatística aberta e construída/revista coletivamente, que é o programa R.

Por outro lado, exclusivamente sociobiológico, fica a pergunta de até onde isto tudo é novo, ou até aonde o mundo vai só mais uma vez se adaptando ao nosso “template” educacional inato. A experiência espetacular do Sugta Mitra de abrir uma tela de “touch screen” e obter em uma rua pobre na Índia um aprendizado extraordinário reflete isto. De fato, a capacidade biológica, portanto inata, de aprender, pode se manifestar mais livremente com menos bagagem cultural/tecnológica. Após aprender uma série de ferramentas, ficamos enrijecidos e menos aptos para novas ferramentas, enquanto que as crianças analfabetas estão plenamente abertas à descoberta. O mundo animal, em especial animais sociais, está cheio de experiências cognitivas coletivas relacionadas à novidades no ambiente.

Vivemos momentos de enormes e rapidamente mutantes novidades! Só sobreviveremos nos abrindo ao compartilhamento de informações, ao aumento da humildade e resignação, à socialização de nosso desenvolvimento pessoal.

Paradoxalmente, estas atitudes nos levam ao alcance de uma ferramenta que claramente pode nos lançar de cabeça ao individualismo e à (falsa) sensação de autonomia existencial, por um lado. Por outro, tão perigoso lado quanto o anterior, nos distancia da introspecção criativa, necessária para a geração autoral de algumas formas de conhecimento, e de aprendizado também.

Uma sentença logo ao final do texto, entusiasta, ilustra este risco de abordagem:

“Hoje se proíbem celulares na escola. Em breve, chamaremos de tolos os que não viam neles um objeto de conectar pessoas para que saibam e possam mais.”

Será que não precisamos desconectar para gerar, para expressar nosso pensamento individual, distante do coletivo, que sempre é contaminado pelos preconceitos e recalques sociais? Será que se radicalizarmos nesta “coletivação” da educação não estaremos calando, ou formatando os pensamentos destoantes, revolucionários, e criadores do novo? Onde estará o espaço para o real e saudável individual neste novo formato? Tornaghi não parece se importar tanto com isto em seu brilhante texto, porém.

Por mais fabuloso que o novo e quase infinito potencial de compartilhamento de conhecimento e informação pela cultura cibernética seja, é importantíssimo não perdermos o EU. É preciso lembrar que esta é só uma re-edição da revolução que foi a invenção da gráfica. Assim como os livros, ainda em voga e longe se tornarem obsoletos, todas estas ferramentas de acesso vão esbarrar na mesma parede: a impossibilidade do sujeito de absorver e refletir sobre todo o conhecimento humano disponível! Assim, por um lado ganhamos com a chance de utilizar a experiência em tempo real do outro, e seu aprendizado, uma trilha que, via a colaboração, não teremos que trilhar toda ou sozinhos ao menos. Por outro, não podemos permitir que deixemos de ser este “outro” com algum rico conhecimento para compartilhar! Assim, a busca pela integração no mundo real (e não com o tempo real) via algo que sabemos e botamos na mesa de trocas da vida não pode deixar de existir primariamente. Ainda mais, não podemos permitir o risco da perda de foco e concentração na produção intelectual introspecta, autoral, revolucionária e individualista!