08.11.10
A Sociobiologia do mal I - Por que religiões monoteístas são piores para a Humanidade.
Sérvio Pontes Ribeiro
Lendo Audous Huxley, em a Filosofia Perene, deparo com um conceito bem peculiar, extraído com frieza científica da sua percepção de diversas filosofias religiosas do ocidente e oriente até o Sec. XX. A noção corrente é que as religiões monoteístas, a saber, Islamismo e o Cristianismo, seriam religiões filosóficas, e as formas politeístas, seriam concepções primitivistas do metafísico e de Deus.
É curioso avaliar isto à luz crítica das diversas e infindáveis guerras santas realizadas e em andamento no mundo. Nesta perspectiva vem à minha cabeça qual foi a última guerra Santa (aquela realizada em nome do “deus certo” contra o “deus errado” ) politeísta? Acredito que não haja! Há guerras, obviamente, entre povos politeístas, e quase todas remontam sim aspectos primitivos e étnico-ecológicos, de acesso e utilização de recursos naturais. Mas qual seria a diferença básica que faz com que Iorubás e Índios Tupis simulem a perda de sua religiosidade, permitindo o “aculturamento religioso” (no caso dos ameríndios, sempre pelos católicos, e os Iorubás, quando escravizados no Brasil, pelos católicos, mas com uma terrível história de total destruição de seu Reino terreno e portanto, na concepção deles, místico também, pelos mulçumanos) invés de lutar pelas suas crenças?
E nesta análise das guerras dos politeístas, quase todos crentes na re-encarnação e praticantes de uma conexão mais vívida com o mundo espiritual (com o único paralelo euro-ocidental sendo o Kardecismo, que por sinal influenciou, junto com o Candomblé no início do Séc. XX, o surgimento da Umbanda, tão similares eram as formam de acesso ao Divino), me vem à cabeça a disputa entre franceses de ingleses na região de Kebec, relatada em um filme antigo que vi. Esta guerra dividiu as nações indígenas já colonizadas, mas eles lutavam de acordo com suas crenças, as quais traziam fortes e profundas relações demográficas e ecológicas, pois agiam em forte sintonia com um objetivo inconsciente (ou consciente) da guerra: selecionar os machos mais fortes, baixar a densidade demográfica temporariamente, exclusão competitiva intra-específica, territorial. Nesta abordagem, um guerreiro então se lança para a morte, em um ataque que leva cinco inimigos com seu suicídio glorioso. Mais que o sacrifício, de fato, na crença vigente em seu espírito, durante as guerras a morte não era um suicídio, pois ela implicaria em continuidade da disputa, em outra dimensão “post-mortem”!
Esta é a visão mais fascinante que permeia todas as religiões politeístas, que o Ocidente arrogantemente resolve considerar de não-filosóficas! Dada a visão de que continuaremos em constante carma com alguém que façamos mal, matar deixa de ser uma solução para um inimigo, e passa a ser um pesadelo. Fico, no campo absoluto da imaginação, especulando o quanto que guerreiros Sioux ou outros ameríndios acabem por amar, organicamente, seus inimigos, e se lancem em “sabida” continuidade com os mesmos, na morte que livra a terra de suas bocas famintas. Em continuidade a este pensamento, poderíamos associar a invenção do Pistoleiro às religiões monoteístas, as quais sempre primaram por controle e domínio sobre os seus e os próximos, por sinal, muitas vezes elimináveis.
Do ponto de vista ecológico, etnológico, e moral, os politeístas associam o Divino ao planeta, aos recursos, aos cristais, minerais, plantas, fogo, ar, terra e água, e um ataque e degradação destes recursos seria uma heresia sem tamanho. Os monoteístas atuantes associam a Divindade a si mesmos, e centrados em si, devotados a serem os escolhidos, negam direito de igualdade e de busca de respeito aos outros e à própria vida na Terra. De fato, a atual moralidade religiosa vigente parece mesmo não passar de um reflexo da evolução humanitária pós Declaração dos Direitos Humanos pela nascente ONU, em 1789, e não um ato próprio. Aonde perdemos a percepção do biológico no senso do metafísico, é a pergunta. Terá o Candomblé infiltrado tal percepção ao sincretizar seus Orixás com os Santos católicos (prática ainda mantida pela Umbanda e não mais pelo Candomblé), e como isto nos re-aproximado de nossas crenças seminais de profunda dependência e amor para com nosso planeta? Será esta a resposta?