16.09.13
SociobioloDia agora é Corsário e a ciência: A ciência e o interior I
Sérvio Pontes Ribeiro
NOTA – Estes questionamentos e reflexões são feitas preservando a minha admiração e respeito por todos que me antecedem, e por aqueles que optaram pelo “mainstream”. A pesquisa brasileira é frágil como um todo e precisamos de todos, mas é preciso olhar para quem está nas bordas desta aventura.
O momento e o instrumento de divulgação e resistência aqui iniciado, merece que uma enciclopédia aberta seja a referência citada. Do Wikipédia:
“Um corso, ou corsário, (do italiano corsaro, comandante de navio autorizado a atacar navios) era um pirata que, por missão ou carta de corso (ou "de marca") de um governo, era autorizado a pilhar navios de outra nação (guerra de corso), aproveitando o fato de as transações comerciais basearem-se, na época, na transferência material das riquezas.”
Trocando em miúdos, O Corsário não é pirata, é uma parte do jogo, e toma com a devida autorização para tomar. A ciência hoje, não só aqui, mas no mundo todo, é feita de reinados, e corsários. Universidades sem prestígio, jovens doutores empregados, grupos emergentes, em suma, são desejáveis e importantes, mas o são como os corsários eram. Podemos tomar e crescer aos poucos para sermos um dia parte de uma grande nação. Enquanto não somos, somos corsários! Não importa se o indivíduo tem porte de almirantado, se ele optou por uma rota alternativa, mesmo que a rota fosse estimulada, é um corsário.
O Plano Nacional da Pós-Graduação, documento público da CAPES, tem um capítulo inteiro sobre a interiorização e expansão da pós-graduação para as regiões mais distantes do país. Eu cri nisto antes deste documento existir, e olha que por sorte nem fui tão para longe. Vim para um próximo recanto de Belo Horizonte, mas para uma universidade que saia de uma fase centrada na formação consagrada de engenheiros, para se tornar de fato uma universidade plena (no dia 21 de agosto a UFOP comemorou 44 jovens anos apenas, enquanto que as Escolas de Minas e Farmácia tem ambas bem mais que 150 anos).
O tempo dispensado nos últimos 10 anos à missão de trazer a pós-graduação (tanto em Ecologia quanto um modelo novo, interdisciplinar, em Evolução) para a UFOP foi consagrado com fabulosos sucessos, extravagantes fracassos, e ameaças de desmontes cotidianos. Pessoalmente? Internamente, eu enfrento diariamente quem prega que formar profissionais na base da ciência não é o caminho; externamente, eu chegarei aos 48 anos de idade como um mero Pesquisador 2 do CNPq (a bolsa de produtividade não considera o empenho para criar programas, coordenar programas, criar Departamentos, ou seja, o CAPINAR do campo não semeado, como produtividade científica - os 50 mestres em Ecologia que a UFOP formou desde a criação de nosso Programa, em 2007, não me somam nenhum extra). O que me faz respirar é o enorme apoio e reconhecimento que tenho dos pares internos (cientistas e a administração da UFOP) e dos pares, DE FATO, externos (os dois grandes grupos internacionais dos quais sou fundador e sempre deles participarei: IBISCA e Azorean Biodiversity Group).
O fato é, por melhor que seja um Corsário, está condenado a gastar sua vida na redistribuição das riquezas, e só ganhará por isto reconhecimentos lendários, e nunca a formalização de algum reconhecimento pelo sistema. Fui revisitar o tal Plano Nacional da “pós” feito pela CAPES para acreditarmos que devemos nos lançar nesta aventura. Na página de início (http://www.capes.gov.br/sobre-a-capes/plano-nacional-de-pos-graduacao) achamos os documentos com os certames para as políticas nacionais, inclusive a expansão da Pós-graduação Brasil afora.
Mas saberão aquelas pessoas que não se arrisca em mar tão bravio sem grandes recompensas? Que pessoas são estas? Bem, o Plano foi integralmente coordenado por pesquisadores da UFMG, e comissionado por representantes de Institutos de Pesquisa e oito IFES de capitais, cinco das quais, do sudeste. São todas pessoas fabulosas, de inquestionável índole e intenções, mas não creio que saibam como sacodem o alambrado de nossos pequenos navios de ataque.
No próximo texto, algumas informações sobre a estagnação da formação de doutores no Brasil.