15.10.12
O Biólogo Professor
Sérvio Pontes Ribeiro
Falou-se tanto, mas faço meu relato. Não sinto que nasci para ser professor. Minha determinação desde novo sempre foi para ser biólogo, trabalhar pelas florestas é um sonho de infância velha. Nunca vi (e ainda tenho dificuldades em ver) a universidade como meta final, mas como caminho para este primeiro sonho. Lá sou o biólogo que quis ser, lá trabalho pelas e com as florestas, como sempre sonhado. Porém, neste processo, o que passa a ser vital, tanto ao entender o funcionamento de uma floresta ou ecossistema, ou ao se esforçar pela sua preservação, é divulgar o que se sabe.
Não tem prazer em saber sozinho, e nisto - do artigo para a sala de aula e, principalmente, para o laboratório - passei a ensinar quantos eu der conta a entrar numa floresta, subir suas árvores e extrair dela as mais preciosas informações. Ensino a me ajudarem a fazer da floresta um lugar importante e indispensável para a espécie humana. Ensino a aprenderem e então a ensinarem, para que um número muito maior de pessoas do que as que eu alcanço, saibam.
Escrevo por esta mesma causa, e ensino os meus tão queridos alunos a fazerem o mesmo. Há um código de descrição e análise das informações, que se tornou uma linguagem universal, maior que o inglês em si, que é usado neste código, para fazer o mundo inteiro falar de uma só ciência e assim vencer rápido o obscurantismo e os isolamentos regionais causados pela pobreza. Ensino então, aos meus alunos e quem quiser ouvir, que pela ciência superamos a miséria pessoal e coletiva. Ensino aos estudantes a aceitarem este código de repasse de informação e saberem usá-lo. E assim, tenho a esperança que o que eu aprender dentro de uma mata, no alto de suas árvores, seja conhecido na África, na Ásia ou em recantos distantes e tropicais de qualquer lado.
Ensino que não podemos ter barreiras culturais e devemos ir para o mundo, para um dia voltar e partir de novo, quem sabe para sentar uma sala de aula e um laboratório de pesquisa no Acre, em Roraima, no Amapá, ou onde mais no mundo que precise tanto de biólogos de qualidade como estes lugares precisam.
Aprendi a ser professor pois foi a melhor forma de ser biólogo. Contar uma boa estória sobre a vida neste planeta, mostrou-se o melhor caminho para mim. Ensinou-me, inclusive, que o professor não é uma profissão, mas é a melhor profissão de qualquer ofício. Ao ser professor ousa-se ser quem tem a mais poderosa arma para propagar um conhecimento, domínio ou saber, e só faz isto, quem acredita na alma que sem estes elementos, não seremos nem tão felizes nem tão prósperos quanto poderemos ser com eles, com o conhecer.