Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

O Corsário e a Ciência

Textos de divulgação científica e reflexões sobre Ecologia da Saúde, à luz da teoria evolutiva ultradarwinista:

19.12.11

a equação da coexistência tensa


Sérvio Pontes Ribeiro

 (adaptado - Nature Knowledege Project)

 

Em ecologia, a equação de crescimento populacional logístico dependente de densidade é uma tábua teórica sólida. Ela fundamenta fenômenos populacionais básicos e muito complexos, explicando desde a rápida ocupação de uma fatia de pão por bolor, até o caos determinístico, uma dinâmica que nos esclarece as flutuações inesperadas e estocásticas de doenças viróticas como a Influenza.

A equação é uma derivada simples, como abaixo:

 

dN/dt = rNo * (K-N/K)

 

Onde a variação do número de indivíduos por um dado intervalo de tempo é causada pelo número “No” de indivíduos iniciais multiplicado por “r”, a taxa intrínseca de incremento populacional. Esta taxa é intrínseca à biologia da espécie em estudo, ou seja, sua fecundidade média por fêmea e por geração. Assim, este primeiro componente, “rN”, define um crescimento exponencial. Basicamente, explica qualquer processo reprodutivo. Aplicada à nossa espécie, explica porque levou décadas para pularmos de 5 para 6 bilhões de pessoas no mundo, e pouco menos que uma década para pular de 6 (em 1998) para 7 (em 2011) bilhões de pessoas no planeta. Basicamente, mesmo se cada casal tiver só um filho, como é há décadas na China, vamos crescer exponencialmente, porque não morremos ao gerar um filho, mas continuamos vivendo com ele. Assim, um filho para dois pais é um aumento de duas para três pessoas! Portanto, um aumento de 50%, até um dos pais morrerem (momento em que já deverá ser avô!). O que muda de uma espécie (ou um agrupamento populacional) para outra e a velocidade deste crescimento exponencial. Se aplicamos isto para nossa espécie, as populações européias têm obviamente um “r” menor que as populações indianas, devido à fecundidade realizada das mulheres netas regiões.

            O segundo componente da equação, “(K-N/N)” define um freio externo, causado pelo ambiente e não pela biologia da espécie. “K”, neste caso, é o número máximo de indivíduos que um dado ambiente pode suportar, ou de capacidade suporte. A medida que o “N” se aproxima de “K” “rN”, vai sendo multiplicado por um número gradualmente menor e fracionário, causando a desaceleração do crescimento exponencial, até chegar a um limite de crescimento zero (como na figura acima). Assim, embora a população européia tenha um “r” baixo, tem um “K hipotético” baixo comparado com os indianos, já que cada europeu exige mais recursos para seu estilo de vida que a média dos indianos.

Digo “K hipotético” porque ninguém está limitado ao seu mundinho hoje, quando se trata de recurso. Ou seja, se não tivesse como importar recursos físicos por troca de serviços e outras atividades que geram dinheiro, os europeus teriam dentro de seu território uma população muito pequena, com o estilo energético que vivem hoje. Os indianos, por sua vez, manteriam populações similarmente grandes como tem hoje, possível por estarem nos trópicos, e por estarem a maioria das pessoas abaixo da faixa da dita “pobreza”. Ou seja, são energeticamente “baratos”.

Neste momento fica claro que o conceito de “pobreza” ou “fim do mundo”, aos olhos frios desta equação ecológica, é meramente uma relação entre número de pessoas e quanto cada uma delas “custa” ao planeta. O fim do mundo seria o fim do “mundo da pegada de Carbono”. Não devemos acabar como forma de vida, mas como estilo de vida. E acabaremos globalmente, já que a capacidade suporte de nenhuma sub-população foi ainda plenamente atingida, pois são artificialmente “empurradas” para cima via importações e exploração desenfreadas dos recursos vindos de outros lugares.

Neste momento, eu queria explorar uma solução fascista à chamada “explosão demográfica” -  o genocídio. Para esclarecer, fascistas são uma parte considerável da classe média global, que cegamente vota em presidentes terroristas que invadem países do Oriente Médio, que se permitem ser manipulados pela Impressa de Direita, gente, portanto, conhecida de cada um de nós.

Assumindo que criamos condições tecnológicas para não termos ainda alcançado a capacidade suporte (dentro das regiões ditas civilizadas – na Etiópia/Darfur, Timor Leste etc, esta foi alcançada sim, mas a mantemos artificialmente subindo via doações humanitárias), mas temendo o aumento da população, optamos pela eliminação de grande parte da humanidade. Bem, matematicamente, o que se observa é bem conhecido: o famoso Baby boom. Com espaço e recurso disponível, e sem a percepção de se estar chegando a um patamar populacional, crescemos na força e escala em que descemos! E nestas idas e vindas, como não é fácil destruir tanta gente, destruímos mais recursos naturais do que gente (o impacto ambiental da Guerra do Iraque irá afetar milhões de pessoas por algumas gerações, enquanto apenas 650.000 – 0,00001 % da população humana - iraquianos morreram nos ataques, segundo a The lancet).

Hoje em dia, as guerras são mais sobre os recursos que sobre as pessoas, numericamente falando. A implicação óbvia disto é que desta vez subimos rápido, mas o “K” estará mais baixo e perto, criando chance de passarmos a capacidade suporte real da Terra, e aí sim, chegarmos a uma catástrofe não planejada, não desejada, em escala sem precedentes e, por isto, sem solução.

Concluindo, não podemos voltar atrás em 7 bilhões de pessoas sem piorar enormemente a situação para todos, ou sem nos aniquilarmos. Temos que diminuir o “r”, aceitar o “K” (dizem 12 bilhões? Menos?), e chegar até ele devagar, para que cada doente, velho, acidentado, tenha seu bebê por vir, mas sem que bebês morram de fome, angústia e pavor. Não podemos arcar com a chance de um mundo em decomposição demográfica, fruto de um excedente descontrolado, irresponsável, e insano, estimulado pela falta de governança e princípios humanitários no reger do mundo.

Precisamos de uma solução antiga e sólida, que está na origem do que permitiu estarmos aqui, a despeito de todo desespero, sofrimento e mortes ao longo da história. Precisamos co-existir em amor pleno uns aos outros. Do contrário, não co-existiremos. É matemática pura!